segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

A ANGÚSTIA (E O AMOR) QUE BROTA DA SALA DE AULA.

"Onde Fica a Casa do Meu Amigo?" é um filme de Abbas Kiarostami (IRÃ, 1987) - acabei de assistir, estou emocionado. Um menino perde (?) seu caderno escolar e o outro (como em um filme de estrada, mas sem carro kkk) vai atrás dele pra entregá-lo. Um desespero para entregar esse caderno, um compromisso com a escola de seu país - um Irã tão complexo, rico de cultura e rígido, muito rígido - essa é uma suposição, apenas isso. O filme desvela muita coisa e aqui vou destacar: o desespero angustiado de um aluno em manter o compromisso com a escola, pela lembrança de um colega (o outro; seu outro). Na ausência de um outro tipo de cuidado, um aluno é capaz de sair do seu ostracismo de "ser sem luz" (origem do termo aluno), e dizer-se estudante sob o luzeiro de um spot light, ser cuida-dor, iluminar-se. O idoso que ele encontra no caminho (no Irã os velhos tem um lugar especial junto às crianças e juventude) pode representar um velho mestre/ professor que, com o seu existir no mundo, também é mulher, é cuidado - e cuida, afinal um professor só o é pelo aluno. O filme é um elogio à presença do outro em nossa vida, uma presença impregnada de muito amor, esperança e resistência - compromisso. O menino vai ao encontro do amor - caça-o, e o encontra. Ter amor é muito difícil, pois precisa caçá-lo, e quem não o faz não o tem, e nem está capacitado ao outro entregá-lo. Em fim, o filme é sobre a realidade de que amar dá um trabalho: um trabalho amoroso, que brota de dentro da humanidade de uma escolinha iraniana - há vida, apesar das vicissitudes.