quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O filme "Morte em Veneza"! (de Luchino Visconti; filme de 1971) é considerado por alguns, como um dos melhores do mundo... é baseado livremente na vida do compositor Mahler (clássico), mas veio de um livro de Mann com o mesmo título. Vamos ao filme, o Visconti (que é da estética marxista), coloca o protagonista como um compositor famoso em crise, já bem maduro, ele perde a filha pequena - está em atrito com a esposa. Ele é famoso demais, rico - e platéia vaia, e isso o mata, o corrói por dentro, fez amor e recebeu desamor, mas ele é arrogante, pedante, recordemos disso, pelo menos no começo, com discussões teóricas frente a uma dor vital kkk... kkk Para descansar (fugir da loucura das perdas em vida) ele vai para Veneza em um período de uma forte epidemia que está matando muitos (é um fato real). Veneza era propaganda de turismo, como é até hoje... Morte em Veneza, Morte em Veneza... Lá em Veneza, e repito, desesperado pelas perdas e mutilações psicológicas e sociais (a doença e seus resultados), ele tenta recuperar o juventude que perdeu (ele não a viveu ou não a viveu como desejava), e se "apaixona" (se encanta? fica seduzido?) por um garoto chamado Tadzio, que tem uma beleza imberbe, muito feminina, é uma mocinha dos 16 anos d - foi intencionalidade de Visconti... Não fica claro se a paixão é sexual - eu acho que é, pois pra mim, toda paixão tem a energia impulsiva do desejo, não falo explicitamente de fazer sexo; falo de amar um outro, tratá-lo bem, cuidar dele com carinho e ternura, se contorcer à noite na cama kkk. Como lhe falei, ansioso por recuperar a beleza perdida (da qual se impregna os jovens), ele vai ao barbeiro do hotel (acho) que lhe maquia, era comum homens se maquiarem naquele período, colocava um pó branco no rosto. E ele vai à praia, e Tadzio finalmente aparece só, no filme os dois entreolham, só isso.... não há conversa entre os dois ou contato físico. Aí ficamos a saber que o compositor está contaminado pela epidemia que cerca Veneza e parte do mundo, e que a morte o espreita - e a morte não é tormenta para o morto, mas para os vivos, esses sim sofrem de algum modo, de ódio, de desprezo, de amor, de não terem dito o que se deveria falar. Tadzio o vê e o enxerga lindo, pois naquela época era lindo estar maquiado, indicava vaidade, vontade, desejo. O personagem meio que leva susto vendo-o tão maduro, e vaidoso. O menino aceita aquilo, gosta daquilo que vê e sente... Tadzio vai caminhando com sua "sungona colante ao corpo" pra praia (o filme ganhou Oscar de figurino - acho) e termina o filme ele fazendo um gesto (que depois descobri) que pode significar: "pode vir, eu o estou esperando". Era uma tática na época - com uma mão levantada, faz um círculo com o dedo. O compositor morre, e os empregados do hotel cuidam do corpo ali mesmo pra desfazerem dele, devido a epidemia contagiosa - fazem de modo mecânico. vão jogar cal logo. Morre um grande compositor, com uma subjetivação em fogo, mas depois de morto, nada vale, ninguém o entende, morre vazio, sozinho... Ouvi várias críticas desse filme e tenho 3 livros só descrevendo e analisando esse (maravilhoso) filme, e a ideia metafórica é: o amor, tal qual uma epidemia, nos corrói por dentro, nos dilacera e finalmente nos mata - mas morremos no espaço que desejamos (Veneza, no caso especifico do personagem), no tempo que não escolhemos (morreu antes de amar concretamente Tadzio). Outra interpretação é de que o velho morre, dando vez ao jovem, que irá viver o mundo e tudo se repetirá. Mas falemos do amor do velho compositor pelo rapaz? Amar aí pra mim é, por ora, nesse tempo interrompido, pode ser conhecê-lo para conhecer-se; fazer amizade entre um mais velho e um jovem donde ambos saem enriquecidos. Veja bem, Tadzio quando autoriza ao professor vir "transar" (conhecer concretamente) com ele, o garoto também morre, pois não alcança seu objetivo, fica colocado de lado, rejeitado, infeliz... é isso. O sujeito vivo, agora morto, o abandona, o deixa viúvo sem uma boa carpideira portuguesa, que por sinal, Portugal fica ali, bem perto.