sexta-feira, 27 de janeiro de 2017


Outro textãozão, crítica experimental de cinema... Vê se o tema agrada...
ESTRANHAMENTE provocador esse filme: "O despertar/ crescimento/ florescimento de Maximo Oliveros" (Filipinas, 2005, direção de Auraeus Solito; Título em inglês: The Blossoming of Maximo Oliveros).
Um adolescente gay - na pubescência - está subjetivamente dividido entre seu amor por um jovem, mas adulto, policial (Victor) e sua lealdade à sua família que faz pequenos tráficos de drogas e outros. Essa situação, para nós, é algo ameaçador, frente a um jovem abaixo dos 18 anos e um policial, mas como veremos, não acontecerá sexo entre eles - mas amizade e amor.

O filme foi elogiadíssimo nos Estados Unidos e em muitos países do mundo, e foi indicado pelas Filipinas ao Oscar. Foi a maior bilheteria no país e na Ásia e ele também se pegou com renda fora das Filipinas. Ganhou vários festivais. É um filme com marcas neorrealistas e nos narra um conto romantizado acerca da perda da inocência e a sua redenção em meio à pobreza.
Nesse filme encontramos Maxi (ator Nathan Lopez) é um jovem gay que vive nas favelas de Manila, e o com seu pai e irmãos, que são pequenos ladrões. A história gira principalmente em torno do conflito entre seu amor dele por um oficial jovem, o policial Victor (JR Valentin), e meios ilegais (?) de subsistência de sua família. Em momento algum o filme aborda o Estado como também responsável por aquela miséria e situação de pequeno tráfico.
Maxi se desvela sempre uma menina, vestindo roupas coloridas, com predominância da cor rosa, uma faixa na cabeça ou colocando pequenos clipes em seu cabelo, pulseiras, batom. São cenas não excitantes, não é um filme pornográfico ou que se interessa em produzir isso. É um filme muitas vezes triste (sem deixar de ser alegre), pois vemos um rapaz sem espaço-tempo de ser, em um país repressor. Filipinas, que é uma ilha, professa em sua maioria a religião católica, e não apenas isso, é um país cercado de outros países fortemente budistas, mas principalmente islamitas. Nesse contexto, Maxi é provocado por vizinhos e amigos da escola. Sua sexualidade é, no entanto, totalmente aceita por seus dois irmãos e por seu pai, e me pareceu bastante aceita por sua comunidade.
Uma noite, dois homens se preparam para violentar sexualmente Maxi, mas ele é salvo pelo seu herói daqui por diante - o policial Victor. Victor não tem uma namorada e sua sexualidade é mantida ambígua e complexa durante todo a película - isso fica evidente, e algumas críticas que eu li concordam comigo.
Vitor não repele os avanços de Maxi, mas nunca permite nada além disso - consegue manter a ética, e pra nós brasileiros é algo bacana, proibido por lei um adulto e um menos de 18 anos de idade - então parece que Filipinas e Brasil são semelhantes quanto a isso. 
O pai de Maxi, e outros, preparam uma emboscada contra Victor, pois ele está investigando a venda de drogas associada a assassinatos dentro da família do rapaz, mas quem o salvará desta vez é Maxi.
Como se sabe, Sorge é feminina, o Cuido é feminino, o símbolo da Enfermagem, por exemplo. Então, machucado, Victor é cuidado de modo detalhado-delicado por Maxi, que cozinha pra ele, e faz café - é o amor sincero desvelado por Sorge (Cuidado). Victor, no máximo, passa as mãos nos cabelos de Maxi e o faz também com Sorge, ternura, e será Maxi que roubará um rápido beijo do policial. Dizem que beijo roubado é algo que prenuncia o amor, mas aqui, não.
O pai de Maxi é morto pelo chefe de Victor. A partir daí veremos um Maxi resistindo às tentativas de renovar sua amizade com o policial, aquele que o traiu, matou desnecessariamente sua frágil família, deixando-o órfão, abandonado. Victor quer suprir isso, mas não tem competência e nem humildade para complexa empreitada.
Tenho que comentar o final Cult... A cena mostra Maxi passando por Victor, que estacionou na beira da estrada (rua) no caminho que sempre passa Maxi para ir à escola. O rapaz ignora Victor quando passa ele - que cena entristecida, pois Maxi não é tão forte quanto se imagina. Há um momento em que Maxi hesita momentaneamente, enquanto atravessa, e eu fiquei preocupado dele retornar a Victor, que afinal matou seu pai - amor, nesse caso, pode apresentar limites.
Achamos assim que a ética do jovem mudará, mas não, ele segue o caminho, de cabeça erguida - gostei. A câmera afasta mostrando Maxi passado e Victor encostado no seu carro esperando uma resposta, e nos colocando distante, é fácil o choro. Ao fundo há uma música que pontua a separação definitiva, um adeus melancólico: é preciso amar, mas mesmo no amor, há ética - repetimos. Essa última cena, foi intencionalmente criada como homenagem ao epílogo de "The Third Man" (Inglaterra, 1949, direção de Carol Reed).
Não é um filme para qualquer um, e ele pode chocar os mais moralistas. É preciso fazer suspensão dos preconceitos (e isso é complexo demais), adentrar a uma outra cultura, muito diferente da nossa (Filipinas) e ter um olhar de ternura sobre um adolescente chamado Maxi, a miséria em que vive, e suas expressões gays, expressões essas criadas na sua sociedade, e poderá surgir uma demanda de compreender o policial na sua humanidade, nas suas delicadas fragilidades de ser-sendo junto ao outro no mundo. Victor mesmo não matou, mas entregou dados ao seu chefe... A questão aí é muito maior.
É um filme triste com pontas de comédia. O diretor coloca o policial ético, enquanto não cede aos encantos desejantes de Maxi, mas o faz pecar assassinando o pai, que sabemos comete pequenos crimes. Matar? Não precisava tanto, deixando três rebentos no abandono. Matar mais, diante de tanta morte simbólica, pra que isso? Quem é vida no filme só pode ser o personagem Maxi, a própria existência, um corpo-alma donde corre o sangue humano. Já o policial (o personagem) faz bem o papel de amizade, algo próximo a um ato de carinho, ternura e respeito.
Complexamente, durante pequenas partes do filme, vemos o profissional da polícia também vivenciando uma espécie de "morto de amor", mas se controlando, um gato no telhado quente. Mas é a ética que se espera dele, e o soldado dá conta disso. 
No sentido de todo esse filme, posso refletir que tal lá, tal qual aqui, Freud pode nos esclarecer, trazer uma luz acerca dos desejos, da morte e do abandono.
Viver é difícil, tá gente? kkk

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