COTIDIANO
FEITO DE BEIJOS . . .
Você liga o celular e pensa: "Vou falar com ela, estou com saudades". Então você disca no aparelho, como aqueles meninos apaixonados fazem, com muita ansiedade, indo ao pote com excessiva sede, com excessiva fome - derramando tudo. Ela atende e diz: "Alô! É você mesmo ou seu namorado?" Como? Você "pensa" que ela descobriu que tens um outro - mas ela (des)cobriu mesmo. Ela então te desmascara, e te coloca no chão: "Ele não me ameaça, uma menina sim. Ele não!". Ela é uma garota que se maquia, gosta de joias de artesanato e acha que esses apetrechos são arte pura, vinda dos hippies. Ela capricha nos perfumes franceses. Já ele gosta de futebol, torce por um time desses populares: "Esqueci o nome", já é formado numa área da saúde, e o único enfeite que tem, é um coraçãozinho de Jesus, que contrabalança com um desodorante forte. Você a acalma, e diz a ela que é você mesmo que ligou - fingindo que tudo está como deixou. Diz a ela que o bofe está fora, jogando com os amigos. Ela, maldosa, te inquire: "Será mesmo?". Você desliga o celular, caminha sozinho na rua 17 de Dezembro, bem no número 202, e para na portaria do seu prédio, pega o elevador que tem numa de suas paredes um poster de um show universitário sertanejo dessas duplas que anda por aí, e você ri alto, descontrolado. Entra no apartamento. Toma banho, enxuga os cabelos, escova os dentes - coça o saco. Olha-se no espelho do banho, sorri intensamente, e naquelas altas horas, com essa energia bucal que trazes no reflexo, pensa que poderia contagiar toda a cidade, especialmente os seus cidadãos mais pacatos e frios. A alegria contagia todo o seu corpo, e você sai, meio que dançando pela sala, com o pé esquerdo, carecendo do outro. Deixa-se cair no sofá. Lembra que precisa estudar Cálculo II, pois leva sério ser engenheiro. Fecha os olhos, e sente os beijos dos dois no seu rosto. Levanta e apaga a luz. Liga a TV na hora da sua melhor série tailandesa. Não resiste e fecha novamente os olhos. Você sente os dois te beijando. O seu coração se torna sensível a essas emoções, como uma carta antiga cheia de palavras amorosas de alguém que se inventou feliz. Dorme sorrindo e sonha com os dois - e comigo, com você.
Você liga o celular e pensa: "Vou falar com ela, estou com saudades". Então você disca no aparelho, como aqueles meninos apaixonados fazem, com muita ansiedade, indo ao pote com excessiva sede, com excessiva fome - derramando tudo. Ela atende e diz: "Alô! É você mesmo ou seu namorado?" Como? Você "pensa" que ela descobriu que tens um outro - mas ela (des)cobriu mesmo. Ela então te desmascara, e te coloca no chão: "Ele não me ameaça, uma menina sim. Ele não!". Ela é uma garota que se maquia, gosta de joias de artesanato e acha que esses apetrechos são arte pura, vinda dos hippies. Ela capricha nos perfumes franceses. Já ele gosta de futebol, torce por um time desses populares: "Esqueci o nome", já é formado numa área da saúde, e o único enfeite que tem, é um coraçãozinho de Jesus, que contrabalança com um desodorante forte. Você a acalma, e diz a ela que é você mesmo que ligou - fingindo que tudo está como deixou. Diz a ela que o bofe está fora, jogando com os amigos. Ela, maldosa, te inquire: "Será mesmo?". Você desliga o celular, caminha sozinho na rua 17 de Dezembro, bem no número 202, e para na portaria do seu prédio, pega o elevador que tem numa de suas paredes um poster de um show universitário sertanejo dessas duplas que anda por aí, e você ri alto, descontrolado. Entra no apartamento. Toma banho, enxuga os cabelos, escova os dentes - coça o saco. Olha-se no espelho do banho, sorri intensamente, e naquelas altas horas, com essa energia bucal que trazes no reflexo, pensa que poderia contagiar toda a cidade, especialmente os seus cidadãos mais pacatos e frios. A alegria contagia todo o seu corpo, e você sai, meio que dançando pela sala, com o pé esquerdo, carecendo do outro. Deixa-se cair no sofá. Lembra que precisa estudar Cálculo II, pois leva sério ser engenheiro. Fecha os olhos, e sente os beijos dos dois no seu rosto. Levanta e apaga a luz. Liga a TV na hora da sua melhor série tailandesa. Não resiste e fecha novamente os olhos. Você sente os dois te beijando. O seu coração se torna sensível a essas emoções, como uma carta antiga cheia de palavras amorosas de alguém que se inventou feliz. Dorme sorrindo e sonha com os dois - e comigo, com você.
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