quinta-feira, 3 de março de 2016

saudades da ex-aluna, psicóloga e mestra em Educação, de abordagem fenomenológico-existencial, Rosa...


Retrato 3X4 de Rosa... Ele me deu...



MARIA DO ROSÁRIO CAMACHO foi minha aluna no mestrado (UFES/PPGE). Era psicóloga e mestra em Educação. Ela fez um estudo hipersensível sobre a dor da criança no hospital frente a morte. Seu artigo [1], emergido dessa dissertação, foi publicado na revista do Conselho de Psicologia (Brasília). O orientador dela foi também meu orientador, o professor doutor Jayme Roy Doxey - respeitadíssimo

Bem, no dia 03 de março de 2013, soube que Rosa (como era chamada) morreu. Ela vinha de um antigo sofrimento físico, e consequentemente, aparecia uma dor psicológica - sempre essas coisas das doenças físicas impactarem o emocional. 

Mas na vida vivida, Rosa era magra, sempre foi elegante demais - sem ser patricinha ou artista de TV kkk... Era uma "lady", fina – tinha um estilo contracultura, eu acho, pelos meus estudos de moda e estilismo kkk. Ela desvelava uma delicadeza rara, e isso tudo compunha sua elegância, que a mostrava engajada junto aos oprimidos, especialmente defendendo a qualidade de vida das crianças e adolescentes (e pessoas em geral) com doenças degenerativas e terminais, atuando junto aos serviços de saúde, lutando por leis etc.  

Sua pesquisa no mestrado (muito lido) é "isso de delicado", algo que advém dela, pelo Cuidado para e com a criança hospitalizada. Nesse contexto de Pedagogia Hospitalar (e da Psicologia), ela defendia uma abordagem teórica e prática indispensável, qual seja, a corrente fenomenológica existencial de pensamento, sentimento, ação – vida. Sua vertente, dentro dessa discursividade, era muito ligada à Gestalterapia e a Gestalpedagogia, mais em Perls. Eu trouxe para ela a interligação com Paulo Freire, e nós nos deliciávamos em refletir, e correlacionar algo quase impossível kkk Mas não é isso também a investigação em ciências sociais e humanas? 

Estou muito entristecido com a vida - sempre ficamos assim, quando perdemos alguém especial, bacana... E será a vida, dizem alguns teóricos da Psicologia, justo ela, que clama por sentido. E a vida deixou de respirar cedendo à morte. Ela respira, mas é nossa companheira de finitude, de efemeridade. Mas a vida é além de mim, eu também vou e ela, como dona Vida, ficará. Mas qual é mesmo o sentido dela, dessa vida? Qual? Uma das possíveis respostas é essa: É o que agora, nesse melodrama de ser cotidiano, estou fazendo para manter Camacho perto de mim, restaurando tudo (ou quase) pelo amor, pelo trabalho e pelo sofrimento inevitável à memória de Rosário – Maria do Rosário. 

Quando eu era professor dela, Rosa vinha ter-se comigo para uma espécie de diálogo com a pesquisa que ela produzia. Ela estava bem, e nem se comentava o câncer... Mas ela aparecia, e eu sempre a achei linda, ao estilo (como já disse) da contracultura, marcada pelo Movimento Hippie, mas agora estilosa, chic, bem Pierre Cardim kkk Ela marcava horário e vinha, e eu brincando, com sua autorização, colocava Amália Rodrigues no nosso som [2] e dublava:

Foi deus que deu luz aos olhos, perfumou as ROSAS, deu ouro ao sol e a prata ao luar; pôs no meu peito um ROSÁRIO de penas, que vou desfiando e choro ao cantar” [3].

Essa pequeno texto é uma homenagem a todas as pessoas que ao passarem por nossa vida, nos marcam com sua presença de sentido, com engajamento político, ética, estética... Compromisso, paixão, ousadia...

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[2] O aparelho de som era usado por nós, em algumas intervenções, juntos aos alunos e as alunas especiais que atendíamos no NEESP, Núcleo de Educação Especial, do Centro de Educação, da Universidade Federal do Espírito Santo.

[3] "Foi Deus" é uma canção portuguesa; com Ângela Maria e depois conheci com original Amália Rodrigues]