quinta-feira, 17 de março de 2016

"AFETOCOGNIÇÃO", ASPECTOS INDISSOCIADOS DO PROCESSO ENSINO-APRENDIZAGEM

Reflexões a partir do cinema...

I
Amanhã... Filme: Total Eclipse ou Eclipse de Uma Paixão (FRANÇA/ BÉLGICA, 1995, direção da cineasta polonesa Agnieszka Holland).

II
Sobre a vida íntima de dois grandes escritores de textos poéticos, os franceses: [1] Paul Verlaine (1844-1896) & Arthur Rimbaud (1854-1891). Os protagonistas são Leonardo DiCaprio como o jovem Rimbaud, e o maduro Verlaine aparece na pele do ator David Thewlis. A esposa de Verlaine é develada pela atriz Romane Bohringer. O trio é elogiado até hoje pela interpretação. Há críticos que afirmam: DiCaprio está em seu melhor filme de um ponto de vista artístico (isso dito em 2016) e que merecia ter ganho Oscar na época, mas nem foi indicado, por ser um filme fora da indústria estadunidense de cinema.

III
Na vida real de Rimbaud: classe média, pai capitão com comenda de Legião de Honra - prêmio instituído em 20 de maio de 1802; influenciou a literatura, a música e a arte modernas. Era conhecido por sua fama de libertino, e por uma alma inquieta, viajando de forma intensiva por três continentes antes de morrer de câncer aos 37 anos de idade. Fugiu de casa e aderiu à Comuna de Paris de 1871, que foi o primeiro governo operário que se tem notícia na história; dedicou-se a todo gênero de atividades, de ator de circo chegando a soldado de exércitos coloniais, também chegou a ser capataz, bem como comerciante de ouro, lã, seda, marfim, café e peles na África e no Oriente até, por fim, fixou-se em um armazém de exportação em Harar, na Etiópia. Ele foi retratado pelo famoso pintor francês romântico Henri Fantin-Latour (1836-1904); era um adolescente calado, de olhos azuis e cabelo castanho-claro comprido; impressionou escritores, músicos e artistas do século XX como: Pablo Picasso, Dylan Thomas, Allen Ginsberg, Vladimir Nabokov, Bob Dylan, Patti Smith, Giannina Braschi, Léo Ferré, Henry Miller, Van Morrison e Jim Morrison. Impressionou ao Movimento Hippie e Contracultural, Psicologia Corporal como em W Reich, bem como a Psicologia Fenomenológica de Frederich Perls. No Brasil, parece marcar Caetano Veloso, Os Mutantes, Milton Nascimento, Glauber Rocha, Paulo Leminski, Ney Matogrosso, Erasmo Carlos no rock etc; Na ciência brasileira, os psicólogos corporais, os fenomenologistas existenciais etc. Marca o pós-modernismo, e na ciência e filosofia, o pós-estruturalismo. Repetindo: morreu com câncer no joelho, em 9 de maio de 1891, onde foi admitido num hospital em Marselha, e ali teve sua perna amputada no dia 27 de maio (repetindo: 1891). No pós-operatório foi descoberto que Rimbaud sofria de câncer - apenas aí. Após uma curta estada na casa de sua família, com uma alma corsária, voltou a viajar para o norte da África - onde fazia tráfico de armas, mas a sua saúde piorou durante a viagem, sendo readmitido no mesmo hospital em Marselha. Após algum tempo de sofrimento e eventuais visitas de sua irmã Isabelle, Rimbaud morreu a 10 de novembro de 1891, com apenas 37 anos. Eu conheço o seu livro "Uma Temporada No Inferno", seu único livro que viu publicado (em vida), que encontrei que se trata de um
 relato em prosa poética do homem perscrutando as suas profundezas e origens. Os textos deste livro visitam sonhos e terras distantes, desejo de solidão e sede de conhecimento, o passado ancestral e a busca pelo desconhecido. Encontrei o seguinte trecho: "Outrora, se bem me lembro, minha vida era um festim onde se abriam todos os corações, onde corriam todos os vinhos. Uma noite, sentei a Beleza em meus joelhos. — E encontrei-a amarga. — E insultei-a".

IV
Na vida real de Verlaine: é considerado um dos maiores e mais populares poetas franceses - Rimbau também; era funcionário público; Mathilde Mauté era sua louca paixão, algo desenfreado, tornou-se sua esposa em 1870. Na proclamação da Terceira República no mesmo ano, Verlaine juntou-se ao 160º batalhão da Guarda nacional, e tornou-se Communard em 18 de março de 1871. Ele veio a ser chefe do escritório de imprensa do Comitê Central da Comuna de Paris. Verlaine escapou das mortais lutas de rua, que aconteceram na conhecida Semana Sangrenta, e foi esconder-se no Pas-de-Calais, que é um departamento da França localizado na região Nord-Pas-de-Calais, cuja capital é a cidade de Arras. Verlaine voltou a Paris em agosto de 1871 e, em setembro, recebeu a primeira carta do poeta Arthur Rimbaud. Em 1872, ele já havia perdido interesse em Mathilde (paixão fulminante mesma...), e logo abandonou-a com seu filho, preferindo a companhia de seu novo amigo - era também algo desenfreado, descontrolado, impulsivo, se assemelhando a uma relação sado-masoquista. A tempestuosa relação entre Rimbaud e Verlaine os levou a Londres, em 1872 - na época feita a navio (acho). Em julho de 1872, estando ambos na Grand Place (hotel), em Bruxelas, numa crise de desespero e destemperamento apaixonado, Verlaine (vamos dizer, mais velho) disparou dois tiros com uma pistola, em Rimbaud (mais jovem), atingindo seu pulso, mas sem causar-lhe sérios danos - uma intencionalidade, me parece, sádica. Como resultado indireto desse acidente (Rimbaud denunciou-o devido a sentir-se perseguido), Verlaine foi preso e encarcerado em Mons, onde ele experimentou uma conversão à Igreja Católica (torna-se cristão), o que novamente influenciou suas obras (é claro... tudo influencia, religião, desejos sexuais, família, governos, políticas, mídias etc.) e provocou críticas afiadas de Rimbaud - que era mais ateu. Ele voltou à França em 1877 (ainda Rimbaud vivo) e, enquanto ensinava Inglês em uma escola em Rethel, apaixonou-se por um de seus alunos cujo nome é Lucien Létinois, que foi quem o inspirou a escrever seus próximos poemas, e ele ficou devastado quando objeto de seu amor - Lucien - morreu de tifo em 1883 (em 1891 morre Rimbaud). A vida dos dois pombinhos (Verlaine e Rimbaud) haviam preconceitos de fora para suas subjetivações (interiorizações), mas ao mesmo tempo, havia alguma tolerância, devido serem famosos e respeitados (empobrecidos, famintos, sujos e doentes), e pela sua nação valorizar as artes e as literaturas - assim era a França (o povo precisa de pão e de circo). Os últimos anos de Verlaine testemunharam sua dependência de drogas (amava absinto, e já havia outras drogas), alcoolismo, pobreza e a diminuição da popularidade (recordar que naquele tempo ser escritor era algo popular, era a diversão da época, além dos músicos e
atores de teatro). Ele viveu em bairros pobres e hospitais públicos (ainda bem que naquela época já existiam... Recordar da Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade, mesmo que a coisa não fosse assim-assim kkk). Verlaine passava seus dias bebendo absinto em cafés parisienses - e essa imagem é muito tentadora. Bom recordar que o cabaré Moulin Rouge só foi fundado aos pés da Colina Montmartre em 10 de outubro de 1889 por Joseph Oller e Charles Zidler que desejavam oferecer um lugar de divertimento popular a um público diversificado, Verlaine pegou um pouco apenas desse experiência, mas seus fundadores deviam conhecer os dois.Por sorte, o amor à arte dos franceses foi capaz de dar-lhe apoio e alguma ajuda financeira. Morreu em Paris com 52 anos de idade, em 8 de janeiro de 1896. 
Encontrei dele, Canção de Outono, e colei e copiei um trecho, que parece a cara dele: "E vou-me ao vento/ que, num tormento,/ me transporta/ de cá p’ra lá,/ como faz à/ folha morta". Vejam como ele marca artistas das canções populares, hoje com esse tema: o outono, a velhice, a finitude, o desleixo, a tristeza, o desamparo.

NOTAS: [1] dados concretos de Rimbaud e Verlaine peguei na Wikipédia.. Lamento, essa não é minha área kkk óbvio... Mal dou conta da Pedagogia, Educação e Psicologia Fenomenológica que considera o ser-no-mundo kkk; só li, quando tinha uns 20 anos, o livro "Uma Temporada No Inferno" que em encantou, fascinou, eu sempre me liguei ao movimento hippie contra a guerra do Vietnã e outras tendências dentro desse movimentar, ação social. Só. [2] Vejam bem, em 1895, Oscar Wilde (1854-1900) foi condenado à prisão com trabalhos forçados, sendo também proibido de legar o seu sobrenome aos filhos. Desgraça semelhante já se havia abatido sobre o poeta Paul Verlaine, que vivera um romance atribuladíssimo (e muito comentado, até popular) com o jovem Arthur Rimbaud. Em razão disso, Verlaine fora condenado por sodomia, na Bélgica, em 1871, permanecendo encarcerado até 1875.


V
As questões que coloco podem ser, por ora:


* O que é afeto? (paixão dos dois) O que é cognição? (a produção da poesia) Como funcionam? Há dicotomia?


** Como a Psicologia (e Pedagogia/ Educação) Fenomenológica propõe descrever e analisar esses aspectos, vividos como indissociados, e que se desvelam do/ no processo ensino-aprendizagem?

*** Como a paixão move o conhecimento?

**** Como (dinâmica) a paixão e conhecimento se inserem no mundo social, histórico, cultural?

***** Como o social e o histórico se presentificam ou se desvelam nas relações interpessoais profissionais (ser escritor) e amorosas?

Mas essas relações são singulares, defendemos, mas elas estão (e se dão) no mundo, na pluralidade desse mesmo mundo. Para isso recorremos à Psicologia Fenomenológica do ser-no-mundo (meu artigo), e para entendermos mundo, recorremos à Psicologia Sócio-Histórico-Cultural (meu artigo) como esclarecedora disso, ampliando nossa compreensão.


FONTES: Para produzir esse pequeno texto informal, eu recorri a Wiki (os dados concretos) e outros para confirmar.... Telefonei para um amigo formado em Letras, e que gosta de Rimbaud. Revista Bravo. Educar Para Crescer. "Uma Temporada no Inferno" da editora L&PM (edição que tenho). O segundo Sartre ("Crítica da Razão Dialética" e...) tem muito a contribuir indissociado ao primeiro ( "O Ser e o Nada: Ensaio de Ontologia Fenomenológica" e...). Temos "Terapia Vivencial" de Erthal (Vozes).

VI
Álbum de fotografias - de recordação...

Verlaine

Rimbaud

À volta da mesa, por Henri Fantin-Latour, 1872, Rimbaud é o segundo à esquerda, tendo ao seu lado direito Paulo Verlaine.

Filme.

Filme.

Filme.


NOTA FINAL:
O próximo filme, donde abordaremos o mesmo tema, será A Cor do Paraíso (Rang-e khoda, no original, e The Color of Paradise, título alternativo em inglês), de 1999, direção de Majid Majidi. Filme indicado oficialmente ao Oscar, sendo o 1o iraniano a fazer tal feito. SINOPSE: Um menino cego é objeto de desprezo do seu pai, pois vê nele um empecilho para casar e ser feliz, em um Irã islâmico, com fortes valores de humanidade e respeito, mas em um país complexo.


O CINEMA NA SALA DE AULA UNIVERSITÁRIA:
Filmes como motivação para aprofundamentos no tema "processos afetivos e aprendizagem", uma disciplina dos cursos de mestrado e doutorado em Educação, da UFES/ CE/ DTEPE/ PPGE. Professor Hiran Pinel. 2016, 1o semestre.